Requiem for the Media

Requiem for the media de Jean Baudrillard surge como resposta ao antecedente Constituents of a theory of the Media, de Enzensberger. Este último crítica a incapacidade da esquerda ocidental em compreender a força do desafio lançado às formas de acção e de organização políticas tradicionais por parte dos mass media, ou seja, o desenvolvimento da «indústria de consciência».

Esquerda subversiva e revolucionária

Segundo Enzensberger, a esquerda constitui em si mesma uma categoria vazia, pois não possui estratégia relativamente aos media, permanecendo fiéis a modelos arcaicos de comunicação, recusando-se a explorar as inúmeras possibilidades facultadas pelos mass media. Quanto à nova esquerda, subversiva e revolucionária, nascida nos anos 60, o desenvolvimento dos media foi reduzido a um simples conceito – o de manipulação. Enzensberger incita a esquerda a superar estas contradições, libertando o potencial emancipador inerente aos novos media. Contrapondo essa utilização dos media para fins repressivos ao desenvolvimento emancipador, Enzensberger compara dois modelos de comunicação: Programa controlado centralmente e um programa descentralizado. No primeiro, atendendo aos fins repressivos, temos um emissor e vários receptores, o que conduz a uma imobilização individualizada. Aqui temos um papel passivo do consumidor, pois a mensagem foi gerada por produtores especializados, chegando esta a ser controlada por proprietários privados ou até mesmo por burocracia, o que não deixa margem para feedback. No programa descentralizado, praticado pela nova esquerda, temos um emissor potencial para cada receptor, o que implica uma mobilização de massas. Aqui há retroacção, pois a mensagem foi gerada por um colectivo e controlada socialmente. 

A afirmação de Enzensberger de que somente uma prática revolucionária pode extrair virtualidade de uma troca democrática inscrita nos media, hoje confiscada e pervertida por uma ordem dominante é alvo de questionamento por parte de Baudrillard. Este assume que os media têm uma função social e que requerem reciprocidade entre interlocutores e uma ambivalência na troca da mensagem, logo: «is not as vehicles of content, but in their form and very operation, that media induce a social relation; and this is not an exploitative relation: it involves the abstraction, separation, and abolition of exchange itself. The media are not co-efficients, but effectors of ideology». 

Comunicação, mais que uma troca passiva

Baudrillard alega que os meios de comunicação de massa falam ao seu público, mas não permitem que este lhes responda. O que existe são simulações da sua resposta através de telefonemas, programas ao vivo, pesquisas de opinião dos espectadores e outras formas de «interacção» falsificada. Assim, Baudrillard declara, sem rodeios, que se entendemos a comunicação como «a reciprocal space of a speech and a response», os mass media fabricam a não-comunicação, pois não deixam espaço para resposta por parte do receptor. Baudrillard afirma ainda que um discurso que não gera resposta é um discurso de poder, pois agrega em si uma mensagem que já é resposta. Deste modo, o autor opõe-se aos mass media, afirmando que a comunicacão tem que ser mais do que uma troca passiva: «We must understand communication as something other than the simple transmission-reception of a message, whether or not the latter is considered reversible through feedback». 

ECRÃ




Maio de 68, imagens









Maio de 68

Na sequência desta ideia vem a experiência dos eventos do Maio de 68 em França, como símbolo da revolta contra o poder institucionalizado, desenvolvendo um discurso marginal além da política, onde tudo nos leva a crer no impacto subversivo dos media: «walls and their speech, silk-screen posters, handpainted notices», onde a própria rua é uma forma alternativa e subversiva dos mass media. Pela efemeridade da circulação do discurso e da mensagem, libertando-se do suporte objectificado de mensagens sem resposta dos mass media. É na rua que Baudrillard encontra o seu ideal de troca livre e imediata, onde a separação hierárquica entre emissor e receptor se torna uma responsabilidade mútua e discursiva num diálogo espontâneo. Assim, «there are neither transmitters, nor receivers, but only people responding to each other».







Videoarte

Os conceitos de imediação, liberdade e espontaneadade da comunicação defendidos por Baudrillard foram sendo aplicados ao longo do tempo. O fenómeno da videoarte é muito interessante ao nível de proporcionar resposta ao «espectador». O vídeo, que até finais da década de 1960, era utilizado apenas para fins comerciais, a partir desta expressão artística, supõe uma nova linguagem, uma nova interacção entre imagem e espectador. Entre os princípios que fazem do videoarte um forte exemplo da aplicação das ideias de Baudrillard, está a crença numa arte alternativa, oposta à cultura de massas. Daí o pressuposto de se criar uma «contra-televisão», assimilando o meio e subvertendo a sua utilização corrente. A imagem passa a «sair da tela», conseguindo projectar as imagens além do monitor e para diferentes direcções. As décadas de 60 e 70, foram muito marcadas pelo impacto do videoarte, devido à sua postura radical e subversiva; trabalhava com o efémero, compreendendo em si, arte e quotidiano, visando destruir convenções e valorizar a criação colectiva. Desta época, aponta-se o exemplo de Ralph Baer, com a instalação Brown Box, na qual a televisão é encarada como entretenimento interactivo, através de um processo semi-analógico. De 1974, ressalta o grupo de projectos «Responsive Environments», de Myron Krueger.

Durante os anos 80, as imagens utilizadas por esta arte procuravam provocar estados anímicos e evocar sensações. A primeira instalação de videoarte interactiva tem o nome de Lorna, da autoria de Lynn Hershman, a qual pressupõe o controlo por parte do espectador, da vida de Lorna, que vive confinada no seu apartamento, dominada pelo desespero e solidão.

Já nos anos 90, adoptou-se uma postura de tornar tudo mais pessoal, autoral, menos militante ou socialmente compremetido. Como exemplo, aponta-se «The Tunnel under the Atlantic», de Maurice Benayoun, instalação experimental que utiliza como meio de interação a realidade virtual, permitindo aos utilizadores, a criação de um espaço.

Internet, novos meios

Chegando à actualidade, podemos verificar os ideiais de Baudrillard num meio muito próximo: a internet. Actualmente podemos usufruir desta troca de mensagens espontânea através de meios como o messenger, o e-mail, o skype, os blogs, o youtube... À partida a internet seria criticada por Baudrillard, pois engloba em si muitos dos meios de comunicação de massa a que tanto se opõe. Contudo, se comporta em si estes meios, a verdade é que faculta resposta. Se visualizarmos um vídeo no youtube, um artigo num blog, se entrarmos no messenger ou recebermos um e-mail, podemos responder e assim usufruir de uma troca livre, espontânea e imediata. 

Apresentação





Jean Baudrillard

Reims, 27 de julho de 1929 — Paris, 6 de março de 2007

Sociólogo, poeta e fotógrafo, desenvolve uma série de teorias que remetem ao estudo dos impactos da comunicação e dos media na sociedade e na cultura contemporâneas. Partindo do princípio de uma realidade construída (hiper-realidade), o autor discute a estrutura do processo em que a cultura de massa produz esta realidade virtual.

Considerado um dos principais teóricos da pós-modernidade e um dos autores que melhor diagnosticaram o mal-estar contemporâneo, Jean Baudrillard foi um dos fundadores da revista "Utopie", além de ter publicado mais de 50 livros ao longo de sua vida.

Estudou alemão na Sorbonne, tendo traduzido para o francês obras de Karl Marx e Bertolt Brecht. Lecionou sociologia na Universidade de Nanterre e sua tese de doutorado, "O sistema dos Objetos", foi publicada em 1968.

Para Baudrillard, o sistema tecnológico desenvolvido deve estar inserido num plano capaz de suportar esta expansão contínua. Ressalta que as redes geram uma quantidade de informações que ultrapassam limites a ponto de influenciar na definição da massa crítica. Todo o ambiente está contaminado pela intoxicação dos media que sustenta este sistema.

A interactividade permite a integração de elementos que antes se encontravam separados. Este fenómeno cria distúrbios na percepção da distância e na definição de um juízo de valor. As partes envolvidas encontram-se tão ligadas que inibem a representação das diferenças transmitida por elas.

A obra é voltada para um estudo semiológico do consumo, assim como seus dois livros seguintes, "A Sociedade de Consumo" (1970) e "Por uma Crítica da Política Econômica do Signo" (1972). Outras de suas obras que merecem destaque são: "À Sombra das Maiorias Silenciosas" (1978), "Simulacros e Simulações" (1981), "América" (1986), "A Troca Impossível" (1999) e "O Lúdico e o Policial" (2000).

Hans Magnus Enzensberger

11 de novembro, 1929 em Kaufbeuren

É poeta, ensaista, tradutor e editor alemão, é também escritor sob o pseudónimo de Andreas Thalmayr, Linda Quilt, Elisabeth Ambras e Serenus M. Brezengang.

Enzensberger estudou literatura e filosofia nas universidades de Erlangen, Freiburg, Hamburgo e também em Sorbonne, Paris, recebeu seu doutorado em 1955.

Trabalhou como redactor na rádio de Stuttgart e exerceu a docência até 1957, com o volume de poesias Verteidigung der Wölfe (Defesa dos Lobos).

Entre 1965 e 1975 foi membro do Grupo 47. Em 1965 criou a revista "Kursbuch" e desde 1985 edita a série literária Die andere Bibliothek.

Publicou entre outras obras Zigue Zague, O naufrágio do Titanic, Outra Europa.

Projecto UPLOAD

"Com a latência permanente do “choque tecnológico”como pano de fundo, torna-se urgente a criação de uma consciência teórica consistente que fundamente a prática das tecnologias (questão puramente consensual que se transforma numa necessidade emergente, no que diz respeito aos Novos Media).

Pretende-se, deste modo que, cada grupo de alunos desenvolva um trabalho de análise crítica, em torno de alguns textos fundamentais/fundadores dos Novos Media, cujo carácter antológico (re)inscreve esta problemática numa perspectiva histórica.

Para tal, propõe-se como metodologia, um (re)conhecimento sustentado destes testemunhos, transportado posteriormente para uma plataforma de investigação e análise crítica, mais tarde devolvida através de uma apresentação (que se assume como uma “remistura” daquilo que são os conteúdos dos textos e da massa crítica construída/digerida a partir da análise dos mesmos)."


Trabalho realizado por Ana Lourenço, Catarina Lau, Joana Mendes Leal e Sara Marques no âmbito da disciplina de Audiovisuais e Multimédia II, Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa, Maio 2009